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terça-feira, 1 de junho de 2010

O Brasil ante as disputas geopolíticas na América Latina - Parte I

Caríssimos leitores deste blog


Nos dias 5 e 6 de junho deste ano, haverá o XXI Encontro Monárquico a realizar-se no Rio de Janeiro - RJ, no Windsor Flórida Hotel, por ocasião do feliz aniversário de S.A.I.R. o Príncipe Dom Luiz de Orleans e Bragança, nosso augusto Chefe da Casa Imperial do Brasil. Este evento ocorre anualmente e congrega o pensamento monárquico brasileiro. Trata-se de um evento importante, onde nele acontece - entre confraternizações, almoço e Missa - palestras extremamente enriquecedoras, mostrando uma visão não saudosista do pensamento dos monarquistas, mas uma visão bastante atual e apurada de fatos que acontecem no Brasil e no mundo.

Este evento é aberto ao público interessado. Caso queiram partipar, acessem o site da Pro Monarquia:

http://monarquia21.org/acao/

Aproveitando o fato de estarmos próximos a este novo Encontro Monárquico, mostro aqui a trascrição que fiz de uma das palestras realizadas no XX Encontro Monárquico, do dia 12 de setembro de 2009, também no Rio de Janeiro,  proferida pelo Sr. José Carlos Sepúlveda da Fonseca e que julgo de suma importância apreendê-la, pois fala de um assunto bastante atual que permeia a situação política do Brasil perante o mundo, principalmente no que diz respeito a sua diplomacia.

Por ser um texto muito extenso, mas interessantíssimo, dividirei em 3 partes que serão publicadas neste blog a seguir:

Parte I:


"O Brasil ante as disputas geopolíticas na América Latina"

Palestra proferida no XX Encontro Monárquico, Rio de Janeiro, 12 de setembro de 2009

Sempre que D. Luiz ou os demais Príncipes abordam temas relativos à monarquia, não se nota que eles apresentem a monarquia como um assunto de saudosistas. Os monarquistas evidentemente falam do passado, mas não com saudosismo. E uma das características dos monarquistas deve ser exatamente um senso da atualidade bem definido.

Nesta semana em que se comemora a Independência do Brasil cabe tratar das Relações internacionais do Brasil, no atual governo.

O assunto é importante por diversas razões, uma das quais porque muitas das medidas tomadas na política externa brasileira ameaçam seriamente a independência do Brasil.

Talvez muitos dos fatos sejam conhecidos, outros nem tanto. Mas não se trata de fazer um enunciado de fatos escandalosos ou inexplicáveis pura e simplesmente para falar mal de um governo republicano. Trata-se, isso sim, de analisar uma série de fatos que no seu conjunto mostram, ao contrário do que se diz, que a política externa do Brasil tem por trás de si uma concepção ideológica, a qual está conduzindo o Brasil para uma situação grave que no futuro pode envolvê-lo em conflitos que nunca procurou.

Há uma ideologia clara e internacionalista que preside a esta política externa, com laivos de nacionalismo também, e que tem levado o atual governo brasileiro a renunciar a muitos de seus direitos, a prejudicar muitos dos interesses nacionais. Num regime que fosse realmente representativo tal política já teria levado a um questionamento sério, por parte de uma oposição que também fosse séria, face a um presidente que renuncia aos direitos do próprio país, que atenta contra os interesses próprios do país. Mas isso não acontece.

Um dos aspectos mais perniciosos que tem havido é o ter-se espalhado desde o início deste governo uma série de ficções. Estas ficções foram embalando as pessoas em ilusões. E ao fim de todos estes anos essas ficções começam a ruir.

Um exemplo de uma dessas ficções que está caindo: no mundo moderno não há ideologias! Talvez seja esta uma das ficções mais perniciosas que se espalham, porque os mesmos que afirmam que não há ideologias se contradizem. O próprio Presidente Lula por ocasião da posse de Zapatero, como primeiro ministro da Espanha, disse que este era um aliado ideológico. Se não há ideologias, como pode Zapatero ser um "aliado ideológico"? E assim, haveria outros exemplos.

Até mesmo pessoas com elevado nível intelectual e cultural, com cursos até no exterior, inclusive pessoas formadas em relações internacionais que não concordam com a orientação deste governo, aceitam que não existe uma ideologia, que o que existe é um pragmatismo, um oportunismo, um relacionamento de conveniência deste com aquele.

Mas, se se for estudar qualquer movimento revolucionário na História, se verá que por trás de uma ideologia há golpismo, oportunismo, há de tudo, mas a linha mestra é uma linha ideológica.

Não há como afirmar que tudo isso seja feito por um acaso.

Outras duas ficções que se espalharam neste governo são as de que nem Partido (PT), nem Presidente perfilam mais a ideologia socialista, estatista. Que o Presidente se converteu ao mercado e que foi um exemplo extraordinário para o mundo e isso se repetiu e se repete "ad nauseam".

Mas isso foi feito por questão tática. Prova disso, foi que na recente crise financeira mundial, o Presidente Lula esteve nos EUA, onde na cadeia CNN, no programa GPS, foi entrevistado por Fareed Zakaria, editor da revista Newsweek, grande analista de análise política internacional e afirmou: "Sou socialista e a favor da economia estatizada”.

E temos a prova do Pré-sal. Então o que vemos, claramente, no meio desta confusão toda é um grande regresso ao estatismo.E este é o primeiro passo.

Citando o editorial do jornal Valor Econômico, daqueles dias, lê-se o seguinte: “As propostas do governo Lula para a nova lei do petróleo deslancharam uma batalha ideológica de magnitude semelhante à privatização e abertura econômica de um governo Fernando Collor de Mello. As privatizações abriram um novo horizonte para a economia do país. Assim como a exploração do petróleo nas camadas do pré-sal, traz a possibilidade de uma mudança radical da qualidade no ciclo do crescimento brasileiro."

Vejam, podemos estar às portas de uma mudança radical na economia brasileira.

As pessoas se escandalizam com coisas que são graves, como no caso Sarney, que estão na superfície, mas por baixo estão acontecendo coisas muito mais graves para as quais as pessoas não atentam.

Outra coisa: outros jornais tem falado do pré-sal. A "The Economist" que é uma revista que sempre elogiou o governo Lula, o tem criticado, dizendo que há uma volta ao estatismo;  o "New York Times", um jornal que sempre teve uma simpatia pela esquerda disse a mesma coisa. Portanto não é uma opinião de poucas pessoas, mas uma opinião que vai se generalizando nos grandes centros da política mundial.

Outra grande falácia que se espalhou foi a seguinte: dizia-se que Chávez era um histriônico, um demagogo, um palhaço que tinha uma retórica que não era para levar a sério, mas ao fim destes anos, ele está perturbando toda a estabilidade da América Latina. Com retórica ou não, palhacesco ou não, ele está intervindo em outros países, como por exemplo no Peru, na Colômbia, na Argentina, no Equador,  na Bolívia, no Paraguay, etc. Estes adjetivos foram um passaporte para ele ir fazendo tudo o que vem fazendo.

Mas esta ficção tinha uma outra parte: se Chávez era histriônico, por outro lado tínhamos um homem "sensato" que era o Presidente Lula, uma espécie de "moderador" que impediria todo o avanço do chavismo na América do Sul. Quando alguém diz que uma coisa vai acontecer é difícil discutir com ela, porque fica uma opinião contra a outra. Mas quando as coisas já aconteceram, já não é tão difícil. E o que nós vemos ao fim destes anos todos é que Lula não moderou ninguém e que Chávez, Evo Morales, Rafael Correa, Daniel Ortega estão avançando. E até mesmo no caso de Honduras houve uma intervenção de Chávez na América do Sul.

Então a ficção de que Chávez era só retórica e de que Lula iria moderá-lo, não se deu.

E agora demos um passo, que é o mais grave, que é o reconhecimento internacional de que o governo Lula e a diplomacia brasileira estão a serviço do projeto chavista. Isso ninguém dizia, ou, se dizia, achavam que isso era um pouco radical. Agora são grandes jornais, grandes revistas, grandes analistas internacionais, grandes órgãos internacionais. Até organizações dos Direitos Humanos protestam contra o governo Lula e contra o próprio Lula por se aliar a tudo que é ditadura no mundo. Portanto estamos numa transição bastante pronunciada.

Outro exemplo é esta ditadura contra a midia que estes governos todos estão instaurando. Exemplo da Presidente da Argentina que está atacando o Clarín. Isso gerou um artigo no El País, da Espanha, mostrando toda a perseguição que os governos chavistas estão fazendo na América do Sul. Alguém já viu o Presidente Lula fazer alguma observação, exigir alguma condição, pedir que haja uma reunião da OEA para estudar o caso da imprensa que está sendo ameaçada? Onde está o "moderador"?

No jornal O Estado de São Paulo, Dennis Rosenfield, professor da UFRGS escreveu o seguinte: “Chavéz persegue opositores, fecha canais de TV, estações de rádio, legisla por decretos, vende armas às FARC, não respeita a soberania da Colômbia, submete o Poder Judiciário, obriga aos seus militares a jurarem "Pátria, Socialismo ou Morte" e nada, entretanto, ocorre com ele. Nenhuma manifestação da OEA, da Assembléia das Nações Unidas e nem da diplomacia brasileira”.

Qual é a opinião do Presidente Lula com relação à Venezuela?  "Lá existe excesso de democracia!"

O Brasil é talvez a maior potência da América Latina e vai ser o fio da balança nesta questão toda. E nós temos que tomar consciência e podemos reverter isso, até mesmo, individualmente. Nós temos esta força.

Outra das grandes falácias da política externa brasileira é a seguinte: quando se pergunta "por que o Brasil se envolve com regimes que promovem o terrorismo, criminosos ou ditatoriais?" A resposta é sempre: Precisamos de relações comerciais.

Quando o Presidente Lula esteve na África,na Cúpula Africana, ficou sentado ao lado de Ahmadinejad e Kadafi, quer dizer, uma companhia bastante requintada para ele. E Lula disse no Estado de SP, no dia 02 de julho, três coisas, e é o caso de indagar ou de pedir para indicar qual é a matéria de relações comerciais e econômicas que existem nestas palavras?

Primeiro: Lula atacou o caráter perverso da ordem internacional. Ele mostra então uma outra concepção da Ordem Internacional.

Segundo: Lula atacou a imprensa dizendo que ela tem preconceito premeditado (sic!) pela proximidade dele com ditadores.

Isso não é preconceito, é uma realidade!

Terceiro: dirigiu seu discurso a Kadaffi, que é um homem que promove terrorismo internacional, referindo-se a ele como "meu amigo, meu irmão e meu líder". Isso tem alguma coisa a ver com relações comerciais?

Enquanto isso, houve um fato que não teve repercussão na mídia, embora merecesse. Em julho, Lula esteve na ONU, para falar no Conselho de Direitos Humanos. E ele foi recebido com protesto internacional de organizações de defesa dos direitos humanos, de grupos de defesa dos direitos humanos, de diplomatas de diversos países, porque a diplomacia do governo Lula em todas atitudes que toma no Conselho dos Diretos Humanos é só para acobertar ditaduras.Ex: impediu que fosse votado o relatório contra a Coréia do Norte um país onde se provou a existência de campos de concentração e de execuções sumárias, sendo este acobertamento criticado pelo Japão, inclusive. Isso são relações comerciais? Assuntos como campos de concentração e execuções? Qual é o argumento que a diplomacia brasileira dá? Diz que não se pode condenar, que é preciso dar uma chance a estes regimes.

Curiosamente em Honduras, com a questão Zelaya, não se deu chance nenhuma, nem tempo nenhum; era preciso condenar! Entretanto na Coréia se deu este tempo, e já se matou, já se perseguiu, se fez de tudo.

Depois que se negou a condenar a Coréia do Norte o que o Brasil fez? Abriu uma Embaixada lá. O embaixador do Brasil quando se dirigiu para o país, na fronteira, foi lhe tirado o celular, segundo as normas do "liberal" regime da Coréia do Norte. Agora imagine-se que tal fato se desse nos EUA, a gritaria que não ia ser!

Estas atitudes de Lula e de sua diplomacia que eu costumo chamar de diplomacia bicéfala, porque é comandada pelo Ministro Celso Amorim e por esta figura nefasta que é o Assessor Presidencial Marco Aurélio Garcia, tem gerado reações internacionais que até agora não havia. Mas de que os jornais brasileiros pouco ou nada falam.

Um artigo escrito por Andrés Oppenheimer, um dos maiores especialistas em política da América Latina, com o título "O Brasil merece críticas por sua horrível política externa", diz o seguinte: "É difícil existir um ditador ou um governo repressor de que o Brasil não goste".

Triste isso! Se lembrarmos como era a política externa no Império.

E prossegue o artigo: "O apoio do Brasil a governos autoritários está minando o desempenho do Conselho dos direitos humanos, declarou Julie de Rivero, diretora da Human Rights Watch em Genebra. Os votos do Brasil no Conselho dos direitos humanos e das Nações Unidas tem se alinhado mais freqüentemente com países totalitários". E aí ele faz um longo elenco de todos os votos do Brasil. E afirma que quando entrevistou Marco Aurélio Garcia sobre isso, este respondeu: "O Brasil não tem que estar dando certificados de boa conduta ou má conduta, pelo mundo". E termina o artigo: "A política externa do Brasil cheira mal. O Brasil tinha que ser fiel aos seus compromissos assumidos em tratados internacionais para defender universalmente os direitos humanos e os princípios democráticos e parar de aplaudir ditadores. Se Lula continuar a fazer vistas grossas para os direitos humanos ao redor do mundo, estará abrindo precedentes para que futuros governos suprimam direitos humanos em seu próprio país. Ou seja, quem aplaude muito ditadores fora, acaba favorecendo ditadores dentro”.

A revista The Economist, também lançou um número especial atacando a política externa brasileira, que foi comentado pelo jornal o Estado de S. Paulo, em seu editorial de 15 de agosto de 2009. "O presidente não terá motivos para acusar de parcialidade contra ele, o prestigioso semanário britânico por ter publicado uma reportagem, um editorial que identificou um inquietante viés chavista da sua política para América do Sul. Do lado de quem está o Brasil?”

Quer dizer que a grande falácia está aí: Não só Lula não é um moderador, mas é um chavista que endossa este governo chavista.

“O papel de linha auxiliar do caudilho desempenhado pelo presidente e seu chanceler Celso Amorim ficou gritante, porque em momento algum eles manifestaram preocupação com a segurança e a estabilidade regionais ameaçadas pelos  acordos militares entre Caracas e Moscou (se refere as bases americanas na Colômbia). Lula se comporta como se o inimigo da democracia na América do Sul fosse o EUA ou a Colômbia ou mesmo o governo "golpista" de Honduras. Lula desnuda a hipocrisia das suas apregoadas convicções democráticas. A versão soprada pelo Itamaraty de que os agrados a Chavéz teriam apenas o objetivo de moderar os seus planos hegemônicos, na região, já  foi desacreditada pelos fatos”.

Lula não dirigiu um pedido de explicação à Venezuela sobre a presença das FARC, comprovada por documentos da Colômbia; não pediu uma explicação à Venezuela sobre os tratados feitos com a Rússia e o oferecimento de bases venezuelanas, inclusive para estacionar aqui, aviões com armas atômicas, o que de si viola todos os tratados assinados pela América do Sul.

A pseudo moderação do governo Lula nas reuniões da Unasul é outro exemplo. Ele investiu o tempo todo contra a Colômbia e jamais contra a Venezuela. Não podemos por no mesmo prato a Colômbia e a Venezuela. Um é um governo que respeita todas as instituições e, o outro é um governo que violou todas as instituições, até agora, isto é, um governo de um autocrata. Além disso, um governo que acoberta um grupo terrorista para atacar um outro país está violando as fronteiras do outro.

Um outro artigo de Marcelo Paiva Abreu,  Phd em economia, pela Universidade de Cambridge, professor do departamento de Economia da PUC do RJ, mostra claramente como toda a política externa brasileira hoje é ditada pelo fascínio pelo chavismo.

A jornalista Dora Kramer que escreve em vários jornais do Brasil, em seu artigo "Advogado do diabo", diz: "Do tiranete iraniano Ahmadinejad ao tiranossauro cubano Fidel Castro, passando por uma vasta gama local de atos e idéias, personagens erráticos, o presidente Lula não vacila quando se trata de assumir a defesa do indefensável. São tantos e tão repetidos os casos que já se configuram um padrão, que a questão em pauta envolve conduta. Lula entra no assunto pelo lado do avesso."

Caros leitores, interrompo aqui a primeira parte desta valiosíssima palestra, mas segue na próxima publicação que farei.

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